O que o amor une, a morte não separa

O tempo é fugaz e escapa por entre os nossos dedos como areia fina de uma duna. Ele é o grande transformador de vidas e destinos; alguns dizem que ele é cruel, outros, agradecem  a cada amanhecer por ele passar trazendo alegrias e ensinamentos eternos.

            Estava pegando a condução para chegar ao trabalho, e nada de novo me rondava: as mesmas pessoas, com olhares cansados e atitudes grosseiras; a falta de solidariedade imperava naquele antro minúsculo e lotado de corpos já suados no início da manhã. Acreditava que seria assim até chegar ao meu destino, mas uma cena encantadora e simples no lado de fora do coletivo foi capaz de me despertar uma alegria indizível e me levar à reflexões:  apreciei um casal de idosos caminhando na calçada, como se fosse o primeiro encontro.

            Pode parecer bobo e romântico demais de minha parte descrever essa cena como ‘linda’, mas além de duas pessoas juntas, eu vi duas almas cúmplices. Poucos são aqueles que cumprem a promessa da união ‘ Na saúde e na doença; na riqueza e na pobreza, até que a morte nos separe’. A rotina é capaz de adoecer uma relação; as dificuldades da vida podem separar; as decepções, desencantar. Mas quando isso acontece, nos perguntamos ‘ Cadê esse amor prometido?”

             O amor que cuida, aquece e vibra as mais profundas fibras de nosso ser; que nos faz pensar no hoje com mais intensidade, mas em um amanhã com promessas vindouras. Milhões de livros já foram escritos e filósofos já tentaram distinguir a paixão arrasadora, que queima, e o amor, brando como o vento, porém, mesmo diante de tais literaturas e suposições, as pessoas ainda são capazes de confundir esses extremos. Mas qual seria a razão? Simplesmente porque, muitos de nós,  ainda está confinado às tentações carnais, adrenalina e prazer que ela causa.

            Clarice Lispector diz que ‘ Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor, que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata ”. Ele não mata, ensina-nos a recomeçar sempre , nos dá forças para continuar a caminhada, nos apóia e nos impulsiona para o melhor que existe em nós. Aquele casal de idosos possui é o amor, o que contagia quem está por perto, o que nos faz sentir bem, sem que sejamos o seu alvo.

            O ‘até que a morte nos separe’ não existe. A morte poderia, em uma visão romântica, ser apenas um transcender á outra realidade, não um fim. Pois o que o amor une, a morte não separa.

Bruna Lupp