A arte da malandragem
Dedicado
a um amigo especial
Acredito que muitos leitores, ao se depararem com esse título, a
princípio, um pouco contraditório e sugestivo, prossigam com a
decodificação dos dados aqui apresentados apenas por amizade a mim
ou, simplesmente, curiosidade de homo sapiens sapiens. No
final do texto, torço para que entendam o fundamento deste título.
Dias atrás fui a um restaurante exótico, repleto de “bugigangas”
que enfeitavam suas paredes e teto. Espaço muito inusitado, mas
encantador ao mesmo tempo. No segundo andar, ao subir as belas
escadas de mármore, me deparo com duas figuras “assustadoras”,
para algumas pessoas, devido ao aspecto rústico que lhes
caracterizava: um malandro típico da Lapa com sua dançarina de
vestido vermelho cintilante. Diante desses personagens, percebi os
olhares recriminadores e pequenos sons abafados de risos carregados
de escárnio, como se o dono do estabelecimento tivesse cometido um
sacrilégio e devesse passar a eternidade no purgatório. Exagero,
claro. Mas o que as pessoas não perceberam é que existem dois tipos
de malandragem: a da Lapa – carnal- e a espiritual. A segunda,
acreditem, é uma arte, necessitando de disciplina e estudo para ser
adquirida.
O amigo a quem dedico esse texto é muito espirituoso, alegre e de
bem com a vida e, confesso, é o meu grande inspirador na arte a que
venho falando. Segundo ele, “malandro é trabalhador”, algo
contraditório com a ideia geral/popular sobre o assunto. Porém, ele
explica o porquê dessa definição: malandro não é aquele
indivíduo boêmio, que vive nas escadas e arcos da Lapa, gastando a
sua vida com valores passageiros e supérfluos; o rei da malandragem
é aquele que acorda cedo para a batalha diária no trabalho e
estudo, que é incansável para alcançar seus objetivos de
crescimento pessoal e profissional. E, acima de tudo, o indivíduo
que aproveita o mundo com tudo o que ele oferece, sem, no entanto, se
misturar a ele “para não se melar” com sua sujeira de seus
valores distorcidos.
Sempre que ouço suas palavras, paro e reflito o quanto são sábias,
mas que muitos de nós, quase nunca, tivemos a chance de refletir.
Essa, sim, é a malandragem mais malandra de todas. Para adquiri-la é
preciso a tal disciplina, odiada pelos boêmios da Lapa, e estudo, a
fim de entender a sua natureza humana e modificar os aspectos que a
rebaixam ao primitivismo de outrora.
Malandro, meu amigo, é: “fazer o bem sem olhar a quem”, sempre
caminhando para frente ( rumo ao caminho da luz) e para o alto (com
o olhar direcionado a Ele). Não digo que essa seja uma tarefa fácil
e sem percalços, afinal, lutar contra si mesmo e seus males exige
perseverança e trabalho. Mas, com certeza, valerá a pena. Como se
diz naquele ditado clichê, mas verdadeiro, “os frutos da colheita
estarão de acordo com o que for plantado e cultivado por nós”.
Ainda fazendo um link com esse ditado popular, acrescento uma singela metáfora ao contexto: como aprecio
muitíssimo uma doce e suculenta fruta, escolho as melhores do pomar.
Às vezes, porém, não tenho tanta sorte e acabo com uma fruta
insípida. Mas aí, a malandra que existe em mim é despertada e faço
daquela fruta uma deliciosa torta. Depois de experiente, tento, em
próxima oportunidade, selecionar a que esteja verdadeiramente
madura. É isso o que a arte da malandragem nos ensina: utilizar as
frutas ao nosso alcance – e plantadas por nós- para tentar
produzir a mais maravilhosa torta ou bolo, ao gosto do freguês.
Agora me falta desejar a você que se torne um malandro espiritual e ...... seja feliz!
Bruna Lupp
Maravilhoso, querida!
ResponderExcluirSeus textos são perfeitos.... a cada dia você se supera.
Linda homenagem prestada a esse amigo tão especial!
Te desejo $uce$$o sempre. minha linda!!
Beijinhos....
Amei, Bruna! Muito inteligente. Bjs,
ResponderExcluirLilly
Bruna,
ResponderExcluirAdorei a controvérsia do seu texto. Parabéns!
Beijos e ótimo final de semana, Neide
PARABÉÉÉÉÉÉÉNS, perfeito; você está se superando a cada texto!!!!!
ResponderExcluirEnorme beijo e sucesso
Nossa, verdadeira arte! Amei, parabéns!
ResponderExcluirBjs