O "tudo" que se pode querer

                 " Quando quis menos, obtive tudo" ( Francisco de Assis. In: LARRÃNAGA, p.09, 2012)

      Ao me deparar com essa frase, parei a leitura do livro e comecei a refletir, divagando em pensamentos profundos que somente eu conseguiria compreender. É preciso relativizar o valor dos termos "menos" e "tudo" para que a declaração de Francisco faça sentido.

      Considerado louco e desequilibrado por muitos, Francisco foi uma das ovelhas mais fiéis de Cristo. Foi com sofrimento e desapego do "todo material" que obteve o "todo espiritual". Desprender-se da riqueza, da vaidade, do ego e do poder não é uma tarefa que se possa concretizar tão facilmente. Afinal, ainda estamos tão desagradavelmente inebriados no tóxico da utópica felicidade carnal que, muitas vezes, não nos damos conta do estado caótico que nos encontramos. Como disse Francisco, somos leprosos da alma. E como se curar? - deixando tudo para trás.

      Cada ferida que desponta em nosso corpo espiritual é o reflexo de nossa ganância em possuir aquilo que não nos pertence. Somos seres espirituais vivenciando uma experiência carnal , portanto, o alimento que nos satisfaz e nutre é de essência mais sublime. Contudo, a fim de nos "empanturrar" com as delícias putrefatas da ilusão, lançamos mão da delicadeza do corpo de Cristo.

      Quando esgotados das inúmeras tentativas de alcançar uma felicidade inexistente e buscarmos apenas o essencial, o "menos", atingiremos um nível máximo de entendimento e felicidade plena, que só aqueles que perderam sua identidade de "Saulo" entenderão. A partir desse momento, teremos "tudo".

      Para Francisco, os leprosos eram os prediletos de Deus - os mais marginalizados e odiados pela sociedade. É preciso que o Mundo nos renegue para que possamos voltar os nossos olhos lacrimejantes aos Céus.